sexta-feira, 7 de agosto de 2015

que tengo miedo a perderte, perderte después

eu sempre fui uma pessoa muito intensa nas minhas relações. sempre fui a primeira a dizer 'euteamo', sempre fui a que chamou o cara pra sair, a que pediu em namoro, a que não tinha medo de rejeição. eu sempre fiz as coisas como eu queria, sempre falei tudo que eu sentia pro outro, sempre fui muito transparente. honesta. sincera. extremamente afetuosa. nunca tive medo de ser assim. eu conseguia ler as pessoas, talvez, ou talvez fosse só quem eu sou. eu sou assim pra tudo.

aí você sai de um relacionamento longo e fica solteira um tempão. e se acostuma com a solidão, a independência, a rotina imprevisível, os caras de 30 anos, todos com medo de compromisso, cheios de escudos, armaduras, ex-namoradas traumatizantes, ex-esposas controladoras, ex-vidas das quais querem fugir. e de repente não tem mais homens disponíveis no mundo, exceto pra sexo casual, e você acha que vai ter que aceitar isso pra sua vida. e, como a todo o resto, você se acostuma.

você se acostuma a ser também indisponível. se acostuma a não procurar. se acostuma a não ser tão afetuosa (ainda mais em público!), e a esperar menos do outro. se acostuma a dormir sozinha, a jantar sozinha, a viajar sozinha, a ir aos bares sozinha. e não é ruim. tudo é adaptável. você faz amigos novos, você cria programas de solteiras, você se acostuma a ser uma ilha, a depender só de você mesma, a não querer mais alguém na cama -- que não mais parece grande demais, e agora é apenas grande, e isso é bom. ser sozinha é bom.

aí aparece alguém. quando você acha que não quer mais, que não precisa mais, nem tava mais pensando nisso... aparece alguém. e ele é charmoso e o papo é incrível e o perfume dele é melhor que todos os outros perfumes, e o beijo é mais doce, e ele dá a mão pra você na rua, te leva na porta de casa, cuida de você doente e te liga pra contar o dia merda que ele teve. e de repente, puf, você se apaixona.

aí chega a grande segunda crise de se ter mais de 30 anos: não saber mais lidar com estar apaixonada.

primeiro, porque o conceito de "estar apaixonada" é algo que a gente batalhou pra desconstruir. e pra isso acontecer, a gente fez ele parecer menor, desimportante. estar apaixonada não é importante, porque a gente já passou dos 30 e quer ser feliz. estar apaixonada não é prioridade na vida porque os homens não querem isso pra vida deles, e a gente também não pode querer, se quiser ser feliz. eu aprendi a ser feliz sem estar apaixonada -- sem precisar estar, quero dizer. mas em algum momento me perdi nessa batalha, e passei a achar que paixão é coisa de adolescente, bobagem, ingenuidade, vergonhinha.

segundo, porque ter 34 anos significa que já vivi muito (talvez metade de uma vida, pra muita gente) e também que já sofri muito. e já me ferrei muito. e já tenho muitas cicatrizes e medos e dores e pânicos (!) de relacionamentos anteriores, assim como os homens, e também criei com os anos minhas armaduras e escudos e uma lista de ex-namorados que me estragaram.

não é que eu não sinta mais -- eu sinto. eu sinto os frios na barriga. eu sinto o carinho infinito. eu sinto um afeto que é maior que todos os outros afetos. eu gosto do que eu sinto, eu reconheço, eu me sinto feliz por estar mais uma vez experimentando essas sensações... mas eu ainda me sinto segura enquanto não verbalizo. minha terapeuta sempre dizia, as coisas se tornam reais depois que passam pela palavra. e é verdade. é como se sentir sozinha fosse tão seguro quanto era ser sozinha. depois de tantas desilusões, foras, mentiras, morte, eu acabei de alguma forma desaprendendo a externalizar certas coisas. sentir é inevitável, mas é meu. ser afetuosa é inevitável, porque sou eu. mas verbalizar o meu afeto me apavora um pouco.

e então caio num loop eterno, porque meu medo me leva a um instante anterior, no qual eu apenas desejava viver o que agora estou vivendo. e agora que tenho o que eu me queixava de não mais ter, me sinto tímida, intimidada. depois de tanto tempo saindo com homens que te avisam que não querem namorar antes da primeira cerveja, de repente se ver namorando é uma sensação estrangeira. meio como descobrir que papai noel não existe, aceitar o fato, seguir com a vida, e uns anos depois dar de cara com ele entalado na chaminé.

e ver que ele te deixou de presente um homem incrível com o sotaque mais lindo, uma coleção de discos do ney e o coração cheio de esperança pelo mundo.

o mesmo mundo que te convenceu que você estava muito velha pra se apaixonar. isn't it ironic?