domingo, 29 de março de 2015

o(s) querer(es)

não é fácil ser solteira aos trinta e poucos.

não que ser solteira em si seja difícil -- a gente aprende a se amar muito mais rápido quando pára de esperar que o outro nos ame. a gente aprende a sair sem depender dos outros, a viajar sozinha, a ir no restaurante sozinha (adoro e não mais me sinto observada/julgada, ainda que saiba que deve ter alguém com pena da minha suposta solidão), cinema, teatro, tudo. dá pra fazer tudo sozinha, e bem. não é por isso que é difícil.

também não é difícil, per se, ainda que seja chato, lidar com as expectativas. as minhas eu aprendi a domar, mas as dos outros. das pessoas que me amam e acham que pra eu ser feliz eu preciso de várias coisas. que eu preciso de um marido, ou pelo menos de um namorado. que eu preciso de um salário muito maior que o que eu tenho. que eu preciso de filhos, ou de planos de filhos. que eu preciso de planos de ter um imóvel, planos de ter uma previdência privada, planos de. planos. e eu aprendi que, honestamente, eu não sou boa nisso. eu não sei fazer planos de longo prazo. eu não sei pensar nos meus 60 anos quando as pessoas morrem aos 26 ao meu redor. eu quero viver agora, ser feliz agora, aprender a amar o que eu tenho, o que está ao meu redor. eu amo vocês, pessoas que me amam. mas eu não sou essa pessoa que vocês queriam que eu fosse. segura. que pensa no futuro. que sonha com o nome dos netos. estável. não sou.

eu acho essas coisas lindas, eu já sofri por não querer todas elas. eu me questiono constantemente -- que mulher não se questiona, meudeus? -- a respeito do porquê de não querer essas coisas, de não esperar o que se espera. eu não sei por que eu não quero. não sei explicar. eu só não quero. e não é um "não quero filhos", "não quero namorado", não é isso. eu só não tenho isso como meta de vida. se acontecer, vai ser porque minha realidade mudou, e ela será bem-vinda. mas eu não vivo meus dias pensando nisso. eu não quero ter esses planos. mas estou aberta ao mundo e às pessoas e às experiências. e é justamente por isso que não posso querer uma coisa específica. eu quero viver. ver no que dá.

ser solteira aos trinta e poucos é difícil, mais que tudo, porque a gente precisa lidar com outras pessoas solteiras aos trinta e poucos. e se eu já sou esse mundo de dúvidas e medos e desejos, imagina outra pessoa com os desejos e medos e dúvidas dela, numa idade em que a gente já tá sem saco pra ceder, pra ouvir, pra ser legal. eu às vezes tenho medo de estar me tornando uma pessoa que quer ser feliz acima de querer que o outro seja feliz comigo. eu queria que todos fossem felizes sem que ninguém precisasse abrir mão de nada. existe isso? é o que eu queria encontrar.

taí, achei uma coisa que eu quero.

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