terça-feira, 23 de março de 2010

it's not you, it's me

é engraçado como muita gente me pergunta isso. "localização? como é isso, você fica procurando coisas no google?" é mesmo um termo estranho pra quem não é da área, mas, acredite, não tem termo que defina melhor o que eu faço.

localização é uma área da tradução, que assim se chama porque vem de "tornar local", não tem nada a ver com encontrar coisas no google. é o termo usado para essa área da tradução que lida com softwares. a gente traduz programas de computador, basicamente é isso. desde o botãozinho "Iniciar" que você clica pra fazer qualquer coisa no windows até os manuais de ajuda, a caixa do produto e os releases de lançamento, tudo é feito por nós, profissionais de localização.

para traduzir esses softwares, usamos programas de tradução específicos. que ajudam a manter o formato codificado original, não mexer na formatação, traduzir legendas de imagens, gráficos etc. existem diversos programas de localização de software, uns melhores que outros, uns muito piores mas aos quais temos que nos sujeitar. e tem a microsoft, que criou programas próprios para a localização dos seus softwares. um deles se chama locstudio, que é um desses programas geniais que transformam um programa inteiro em uma super-power-blaster-surround planilha, na qual é possível simplesmente traduzir os botões/comandos/whatever numa coluninha e quando acaba, puf, o engenheiro transforma aquilo em programa de novo - já localizado para o português.

o locstudio tem várias coisas legais. ele tem milhões de opções de verificação que fazem com que seja quase impossível fazer um trabalho ruim. ele verifica repetições, inconsistências, aponta se você pulou alguma linha, procura num glossário e vê se você traduziu de acordo com ele, oferece milhões de formas de verificar cada possível tropeço ao qual todo tradutor está sujeito, seja por um minuto de sono, porque o telefone tocou, porque não pensou no big picture naquele minuto, enfim. e ele te ajuda a corrigir, aponta onde foi, é lindo.

o programa também tem seu lado ruim, que é o de, diferente de programas que usam memória de tradução, como o Trados, não mostrar o que já foi traduzido em frases parecidas com aquela. ele só te mostra uma frase se ela for idêntica à que você está traduzindo. e aí isso vira um trabalhinho a mais, uma pesquisazinha a mais. tudo bem, mas não custava nada facilitar a nossa vida.

mas uma coisa que eu *realmente* invejo no locstudio são os filtros. o programa tem uma coisa sensacional, que é a capacidade de filtrar o seu arquivo de trabalho usando qual-quer (eu repito, qual-quer) critério. você quer que ele mostre só o que ainda não foi traduzido? aplica o filtro, puf. quer que ele mostre só o que foi feito por um tradutor específico. aplica o filtro. quer uma coisa que ele ainda não sabe fazer? tudo bem, ele deixa você CRIAR um filtro. e aí você aplica. são opções infinitas de filtragem, e aí o programa só te mostra aquela parte do texto, aquele viés.

eu quero isso pra vida.

eu quero poder me filtrar pras pessoas, quero poder olhar para alguém e pensar, hmmm, não posso ser tão acadêmica aqui, e plim, aplicar o filtro de menos academicismo. quero pensar, hmm, preciso ser mais nerd aqui, e tchan, aplicar o filtro nerd. eu sou uma pessoa sem filtros, isso me causa muitos problemas. veja bem, eu transito muito bem entre os diferentes ambientes sociais, mas é sempre barely, sempre sendo tão eu mesma que às vezes isso me prejudica. porque ainda que isso indique um teor de personalidade que muita gente não tem, e isso é bom, não é?, mas isso também me impede um pouco de impor limites. eu não tenho mais aquele murinho que divide o formal do informal, o público do privado, o que deve ser dito e o que não deve. eu cheguei em um nível de transparência que não é, não pode ser, saudável. 

ainda vou explicar isso melhor em outros momentos, ou talvez isso simplesmente fique claro aqui. não é que eu seja uma mulher sem segredos; eu tenho segredos, como todo mundo, e tenho vergonhas, e receios, e medos, e tudo mais. mas eu, definitivamente, não tenho filtros. e isso atrapalha, eu venho concluindo, a minha relação com homens heterossexuais. desde ter que ouvir o irmão me chamar de "hippie", porque eu não tenho grandes pudores com o sexo oposto, até ouvir um amigo próximo fazer um comentário um tanto sexualizado sobre mim, o que foi muito constrangedor. mas o que eu acho é que a minha falta de filtro justifica isso. it's not you, it's me.

mas, nem oito, nem oitenta: eu preciso achar a medida que me deixa confortável ser quem eu sou, como eu sou. não acho que filtros sejam se esconder, pelo contrário, é mostrar o que é relevante. e isso nada tem a ver com meus decotes...

locstudio 1 x 0 eu.

2 comentários:

  1. Gabizinha, nem todo filtro do mundo conseguiria filtrar sua personalidade. Ainda bem.
    No mais a mais, continue sendo você mesma, porque o bom da vida é isso. Filtros em demasia, ma chérie, é pros diplomatas (piada interna).

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