sexta-feira, 24 de abril de 2015

sossego

[encontrado em um caderninho. datado de novembro de 2008]


eu queria entender melhor o que me torna reclusa e o que me mantém de pé, ter mais controle do meu humor. entender melhor a passagem de voz ao cantar, controlar uma e outra. entender melhor a formação das escalas, dos acordes, saber de cor, conseguir compor pro tanto que eu sempre preciso dizer. dizer em outra língua, em sons, controlar melhor o meu publico/privado. queria ser mais generosa, genuinamente generosa, que, aprendi ontem, é tudo que nao sou. queria entender o que dispara a ansiedade, entender por que ela dispara, e aprender a destravar. entender o que causa o pavor da desorganização, se eu já sou essa bagunça. queria saber ser sincera sem ser melosa, ser carinhosa sem soar nada além de carinho. queria saber fazer com que os meus cabelos ainda estivessem bonitos às sete da noite, queria ser mais feminina. queria menos símbolos e mais verdades, menos pré-julgamentos e mais critérios, menos olhares e mais sorrisos. queria menos barriga. queria saber a hora de parar, e ter mais responsabilidade. aceitar umas coisas, perdoar outras. esquecer umas tantas. colocar umas em moldura, como os quadrinhos do hopper que eu quero tanto e não me organizo pra fazer. se eu pensar bem, eu até sou feliz, mas eu queria mais. se eu pensar bem, eu sou livre, mas eu queria mais. se eu pensar mais, eu sou tanta coisa, mas nada é suficiente. eu queria conseguir delimitar uma linha de suficiência, e poder chegar nela. mas tudo no meu mundo é inalcançável. não precisava deixar de querer, porque é saudável, mas eu queria querer mais o que eu tenho. eu queria sossego. dormir e não acordar com pesadelos, calor e esse cansaço que não me larga. sossego. eu queria ser mais, mas não sei quanto. sossego.

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